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O Banheiro do Papa e a Copa do Mundo

 

O banheiro do Papa A cidade que resolveu ganhar com a invasão dos turistas.

 

 

Em Curitiba há um déficit de 50 mil casas para os pobres, a empresa de abastecimento de água registra perdas de 40%, a rede elétrica ainda está pendurada em postes – mas a gente continua gastando dinheiro em obras para a Copa do Mundo.

Orçamentos são reajustados a cada semana. Da ponte estaiada ao estádio do Atlético, os milhões rolam. Tudo se justifica pela importância dos jogos do ano que vem.

Há descrentes da grandeza do evento. Eles observam que não assistiremos a um só jogo da seleção brasileira. Nem haverá partidas entre os grandes da Europa. Nem Inglaterra X Espanha, nem Itália X Alemanha. Como acreditar nas previsões das autoridades locais, da CBF e da Fifa?

Alguns desconfiados vêem inquietadora semelhança entre a situação atual e a de um filme chamado “O Banheiro do Papa” (El Baño del Papa, 2007), pequena obra-prima dos uruguaios César Charlone e Enrique Fernández. Tem tudo a ver com as noticias sobre multidões cheias de dólares

“O Banheiro do Papa” não é sobre futebol – é a história da visita do Papa João Paulo II ao Uruguai. Começa com a chegada de uma equipe da TV à pequena cidade de Melo, na fronteira com o Brasil, onde o Papa deve oficiar missa. Um repórter comenta que milhares de visitantes brasileiros viajarão até lá para ver o Sumo Pontífece. Os moradores entusiasmados decidem ganham um dinheirinho com o turismo religioso. Resolvem abrir pequenos negócios – venda de alimentos, bebidas, lembranças.

O dias passam, a previsões para o evento vão ficando cada vez melhores. Eram milhares, depois dezenas de milhares, agora passam de cem mil os turistas esperados.

Beto, um morador que vive do pequeno contrabando entre Melo e o Brasil, decide investir em banheiros. Os turistas vão precisar “evacuar”, explica para a mulher, que lhe empresta o dinheiro duramente economizado.

Os números continuam melhorando. Agora os visitantes podem chegar a 200 mil. Aumentam os investimentos dos moradores de Melo, agora afundados até o pescoço em dívidas.

A ansiedade cresce com a aproximação do dia da visita. Quando ela finalmente ocorre, só 5.000 brasileiros vêm para a missa realizada no campo. Apenas 500 visitam a cidade e logo voltam para o outro lado da fronteira. Os moradores de Melo durante longo tempo são obrigados a comer as tortas, bolos e outros alimentos que esperavam vender.

E Beto bebe vinho barato enquanto assimila o prejuízo com a construção do banheiro, que quase não foi usado. Mas que é, sem dúvida, o mais moderno de Melo.

 

 

 

Posted on 13th abril 2013 in Sem categoria  •  No comments yet

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