logo
Governo e política, crime e segurança, arte, escola, dinheiro e principalmente gente da cidade sem portas
post

Declaração de voto

.

hhjjj

Walter Lippmann

 

Em “O Público Fantasma”, Walter Lippmann declara sua pouca fé na capacidade do cidadão comum na hora de tomar decisões políticas simples, como votar para presidente. Culpa da falta de educação social, isto é, educação sobre problemas urbanos, suburbanos, estaduais, nacionais, internacionais, financeiros, geológicos, industriais, trabalhistas, agrícolas, jurídicos.

É quase enciclopédica a quantidade de informação necessária para participar de uma simples conversa de café sem dizer besteira. E não basta ensinar ao jovem estudante essas questões; é preciso que ele se atualize permanentemente porque o problema do transporte público este ano não é o mesmo do ano passado. Nem o do orçamento público, que agora tem um anexo secreto. Muito menos o da legislação sobre o uso do IPTU para construir calçadas, que estão uma buraqueira.

Lippmann conta a fábula do professor que, ao entardecer, meditava sobre toda essa problemática caminhando por um parque. Bateu numa árvore. Sendo um homem bem educado, prontamente tirou o chapéu (a história é de 1927. Na época, os professores ganhavam para comprar chapéus), inclinou-se diante da árvore e disse: “Desculpe-me, senhor, eu pensei que o senhor fosse uma árvore”.

Imagino o que aconteceria se o professor batesse não em uma árvore mas no último modelo da máquina de votar do Tribunal Superior Eleitoral. Na tela estaria o convite para escolher o próximo presidente da República entre Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Simone Tebet e mais sei lá quantos outros candidatos. E em outras telas os nomes de centenas de candidatos e deputado federal e deputado estadual. Procura no bolso, não acha a colinha. Olha no chão, não há material de propaganda jogado fora, como nas eleições de antigamente. O professor tira o chapéu, inclina-se diante da urna eletrônica e diz: “Desculpe, urna eletrônica, eu pensei que a senhora fosse do tempo em que o voto já vinha impresso e era entregue pelo cabo eleitoral”.

E decide não votar.

Porque o presidencialismo gerou o presidente de opereta. Votar é uma inutilidade. Nossa democracia representativa não dá bola para a demografia. Como é que um país em que a maioria dos habitantes são negros e pobres tem um congresso branco e tão rico? Onde estão as mulheres deputadas, que poderiam ser maioria no Congresso se mulher votasse em mulher e não passam de 15%?  Os representantes discursam contra a corrupção que, para eles, é roubar dos cofres públicos. Evitam deblaterar contra o sistema bancário, que rouba em um dia o que a turma do petrolão levou anos para levar. Nem denunciam o sistema que manda para a penitenciária, aos milhares, passadores de fumo – gente preta, pobre e periférica. O dono do negócio goza a vida a beira mar.

Um congresso de opereta, mistura de Cancion de Tchuchuchuca com La Generala.

Lippmann não era otimista com o futuro. Lembrava que Jefferson, Hamilton e os outros Pais Fundadores dos EUA fundaram uma república, não uma democracia. Aqui foi pior: o Marechal Deodoro, com dolorosa crise de gota, foi levado ao Paço para homologar o golpe de estado.

Que tal proclamar uma democracia?

 

.

 

 

 

.

 

Posted on 22nd agosto 2022 in Sem categoria  •  No comments yet

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *