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Não haverá paz na sociedade enquanto as favelas não ocuparem seus espaços, escreve Preto Zezé no livro Das Quadras para o Mundo (CeNE Editora, Fortaleza, 2019). É um relato autobiográfico sobre a vida da maioria negra que vive nas periferias de Fortaleza e seu trabalho de organização comunitária.
Vale para todo o Brasil.
“Se não tiver paz para a favela, não vai ter paz para ninguém. Porque ou dividimos as riquezas que o trabalho coletivo produz, ou todos irão sucumbir na barbárie que a concentração de riqueza e oportunidades pode gerar. E aí, quando o ódio dominar geral, não vai sobrar ninguém.”
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Preto Zezé, cujo nome de batismo é Francisco José Pereira, nasceu em Fortaleza, entre as ruas de terra da favela das Quadras e o asfalto da Aldeota. Filho de retirantes, mãe doméstica e pai pintor de paredes, é o mais velho de cinco irmãos.
Seu primeiro projeto de empreendedor foi ser lavador de carros nas ruas da cidade; formou-se na cultura dos bailes funks e da pichação. Em 90 iniciou seu ativismo social na cultura Hip Hop, em particular na música rap.
Um trabalho de base que começou na Quadra, comunidade encravada no lado rico da cidade. E prosseguiu nas periferias e municípios vizinhos, chegando a reunir multidões que shows que ganharam apoio de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, dos Racionais MC, maior grupo de rap do Brasil.
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Preto Zezé foi de tudo: poeta, apresentador, rapper, letrista, blogueiro do site G1 e repórter da TV Verdes Mares. Hoje é presidente internacional da CUFA – Central Única das Favelas, presente em 27 países, que já arrecadou mais de 100 milhões em donativos para vítimas da pandemia aqui no Brasil. A entidade foi criada por ele, MV Bill, a rapper Nega Gizza, o produtor Claudio Athayde e outros astros do hip hop de nome pouco conhecido fora das periferias.
A organização das comunidades, que hoje representam uma força cultural, política e econômica, é um produto de tudo isso – hip hop, do rap, do street dance, do basquete de rua, dos bailões de funk. Teve o apoio de líderes como a Luizianne Lins e Roberto Claudio, ex-prefeitos de Fortaleza e políticos do PT, PDT, PC do B e outros partidos de esquerda.
Ao longo de 200 páginas, o leitor vai ganhando familiaridade com gírias e etiquetas das periferias, que o autor chama de Brasil invisível. Conhece seus medos, sonhos e conquistas. Ganha respeito pela causa e aprende a evitar encrencas nas quebradas e tumultos.
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“Festa cheia – adverte Preto Zezé – é granada sem pino.”
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