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“Le Reve” (O Sonho) foi escolhido para turbinar a publicidade da exposição. Nos anos 1930, jornais publicaram críticas que consideravam o quadro priápico e inaceitável. O tempo passou. “Le Reve” continua priápico, mas deixou de ser inaceitável.
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Para a maioria dos artistas plásticos, um ano de trabalho fornece material para povoar uma sala de exposição. No maximo.
Picasso foi uma exceção a essa regra. Há mais de 100 pinturas, esculturas e desenhos em sua exposição “Picasso 1932 Amor, Fama e Tragédia”, que atrai grande público ao Tate Modern, à beira do Tamisa. (tate.org.uk).
O material exposto é só uma fração do que foi produzido naqueles 12 meses e vem acompanhado de farto arquivo de documentos – uma conta do açougueiro, foto do algum de família, um manuscrito de Andre Breton.
A superprodutividade de Picasso em 1932 foi atribuída à sua paixão. O affair com Marie-Thérèse Walter – ele 50, ela 22 anos – exacerbou a criatividade e instigou novas investigações formais.
Laura Cummings, do Guardian, avalia que a atividade intensa, que resultava em até três óleos no mesmo dia, imagem dando origem à nova imagem, é uma revelação sobre o método criativo do espanhol. Suor e inspiração, “o pincel movendo-se em torno do corpo da amante como uma língua ou mão.” Quem tiver um tempinho deve ler o texto dela. É afiado, mistura de bom jornalismo e crítica aguçada.
Tudo mudou depois do ano de 1932. O fascismo dominou a Europa. Marie-Therèse adoeceu gravemente depois de nadar na água contaminada do rio Marne. Um outro Picasso nasceria da tragédia.
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A exposição foi primeiro apresentada no belo Museu Nacional Picasso de Paris (5, rue de Thorigny). Circula pela Inglaterra, talvez vá aos EUA. Um dia chegará aqui.
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