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A praia de Pontal do Sul é a mais bonita do Paraná. Alguém discute essa afirmação do guia turístico?
Mas também é a mais complicada, remota, às vezes inacessível.
Dia 29 às 17h12min a estrada de acesso – é mais correto chamá-la de trilha ou carreador – estava travada, como de costume. O trajeto de 20 quilômetros, entre a BR 277 e Praia do Leste, levou três horas. Os 19 quilômetros até Pontal do Sul foram percorridos mais depressa – uma hora e vinte.
Quarenta quilômetros em 4h20.
A concessionária não está nem ai. Cobra 19,50 de pedágio dos carros de passeio e o motorista deve agradecer porque este não é o mais caro do Paraná. Em Jataizinho, no norte do Estado, rodar 100 quilômetros custa 22 reais.
Esses preços são corrigidos para cima de tempos em tempos com a cumplicidade da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná (Agepar).
A Agepar concorda que você divida a pista única e molhada com motos, caminhões de entrega de cerveja, que vão parando de bar em bar, caminhões-tanque, ônibus, até patrolas.
O trecho Curitiba-Paranaguá da BR-277 foi construido pelo governo do Paraná com ajuda federal. Inaugurado em 1967, foi privatizado em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Uma cláusula do contrato de concessão determinava que a concessionária duplicasse o trecho até Praia de Leste. Em 2000, houve um aditivo contratual que não falava mais em duplicação.
Foram vários os aditivos – em nenhum deles o povo saiu ganhando.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito concluiu que o pedágio devia baixar – mas o pedágio não baixou.
A estrada e suas estradinhas alimentadoras resumem os vícios do capitalismo tardio que se instalou no país depois da Segunda Guerra.
Algum dia os livros de história apontarão a BR-277 como a prova definitiva de que o lucro do grande empresário vem do seu Departamento Jurídico e do Setor de Operações Estruturadas – nunca do Departamento de Engenharia.
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P.S. – Hoje é sexta-feira, tenho que ir. Boa viagem para todos.