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Quando as águas da enchente cobrem tudo e todos, é porque de há muito começou a chover na serra. Nós é que não nos demos conta.
A frase é de Eraclio Zepeda, poeta e revolucionário mexicano, que morreu em 2015. O “nós” refere-se ao povo mexicano mas poderia ser para os brasileiros. Já batemos nos 20 milhões de desempregados (os registrados e os que desistiram de procurar emprego), multidões de sem teto habitam as marquises das cidades, há fome e doença, mas o Ministério da Saúde teve o orçamento cortado.Questão de austeridade.
É assustadora a abulia da opinião pública. Só reage às 20h30 ao saber pelo Jornal Nacional a denúncia do dia. A culpa é dos corruptos, Brasil. Tiramos os petralhas de lá, falta o Temer.
O JN não informa que chove na serra.
A situação está tão difícil que foram perguntar ao técnico Tite se aceitaria uma eleição, já que tem mais de 80% de aprovação dos brasileiros. Está no El Pais de hoje. Tite disse que não.
No mesmo El País – veja em http://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/29/opinion/1496068623_644264.html – Eliane Brum recomenda a leitura de Sobre a tirania – Vinte lições do século XX para o presente, que será lançado pela Companhia das Letras no início de junho. “Perturbado pela chocante eleição de Donald Trump, escreve Eliane, Timothy Snyder, professor de história da universidade de Yale, postou um texto no Facebook que se tornou viral. Ele começava assim: “Os americanos não são mais sábios que os europeus, que viram a democracia dar lugar ao fascismo, ao nazismo ou ao comunismo. Nossa única vantagem é ser capaz de aprender com a experiência deles”. O texto foi ampliado e se tornou um livro best-seller nos Estados Unidos, já convertido para várias línguas. Agora chega ao Brasil, traduzido por Donaldson M. Garschagen.”
O problema da opinião pública ficou complicado, principalmente em países com um sistema eleitoral de certa qualidade. No ReputatioLab, (www.reputatiolab.com) Nicolas Vanderbiest analisa a pesquisa sobre a comunicação e o buzz do mal, que é a nova roupa do negative ad. a publicidade negativa.
Ela destruiu o PT – que estava distraído distribuindo cargos federais à base parlamentar e não observou a chuva na serra.
O buzz do mal chama-se marketing de guerrilha. (Veja detalhes em www.publicidade viral/marketing-de-guerrilha-e-ferramentas). Consagrou bordões. “Vai pra Cuba!”, “Se gosta de bandido, pega um trombadinha e leva pra casa!”, “Lula tinha que saber!”
O outro nome é Astro Turf. Astroturfing é a ativação de movimentos espontâneos que têm uma causa associada a uma marca, promovendo barulho e disseminando mensagens que conseguem engajar um público específico. O termo em inglês vem de Astro Turf (grama sintética) em oposição ao termo grass roots (que são movimentos espontâneos da comunidade).
É isso e o JN, que sofre anemia de Ibope mas ainda é o maior influenciador de opiniões.
Derrubaram a Dilma, vão derrubar o Temer, vão eleger esse cara em que você está pensando só para votar reformas sem juizo da CLT e da previdência. Depois vai todo mundo para a praia. A limpeza da área fica com esses caras em que você está pensando.
Deu pra entender? Alguém ajuda a construir uma arca? Quem sabe desenhar a chuva na serra?