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Toni Servillio e Daniel Auteuil ganharam duas vezes o prêmio de melhor ator do cinema europeu, o EFA – European Film Award.
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A bem da verdade, devemos admitir que nem todos os projetores do Shopping Novo Batel estão ferrados. O da Sala 2 funciona bem, imagem clara, som de qualidade.
Assisti com certo conforto As Confissões, de Roberto Andó, que também dirigiu Viva a Liberdade e outros filmes políticos.
O filme deve ser visto como um dos resultados da crise de 2008. O mundo sofreu com a constatação de que a lei internacional é para todos, menos para a alta finança. As regras de austeridade nada têm a ver com o que acontece nos gabinetes dos grandes bancos, onde quem não é bilionário é multimilionário porque os bonus de produtividade continuam a ser distribuídos com generosidade.
O ex-ministro grego das Finanças Yanis Varoufakis chama a isso centralização sem representação.
A história começa com uma câmera aérea acompanhando um carro que chega ao hotel de luxo na costa da Alemanha, no Mar Báltico, onde se realiza um encontro do G8, o grupo de dirigentes das sete maiores economias do mundo mais a Rússia, que não está mais entre as maiores economias, mas possui grande arsenal nuclear.
Chega o misterioso monge Roberto Salus (Toni Servillio) convidado pelo presidente do Fundo Monetário Internacional, Daniel Roché (Daniel Auteuil). Ele pede ao monge para ouvi-lo em confissão. No dia seguinte é encontrado morto, asfixiado em um saco plástico – o mesmo que o monge usava para guardar um gravador de voz.
Instala-se a suspeita. Foi suicídio? Assassinato? A confissão foi gravada? Com tantas câmeras vigiando o local, alguma ajudaria a solucionar o mistério?
O filme foi em parte inspirado por um episódio real. Entre 6 e 8 de junho de 2007, o Grand Hotel de Heiligendamm, no norte da Alemanha, sediou a reunião de cúpula do G8. Como resultado 25 mil ativistas anticapitalistas bloquearam as estradas de acesso. Os dirigentes foram transportados em helicópteros, daí talvez a câmera aérea do início da história.
Houve embates violentos entre manifestantes e polícia na cidade de Rostock. Der Spiegel reportou que 146 policiais saíram feridos, 25 seriamente, e 49 pessoas foram presas acusadas de violência. A polícia usou, além de cassetetes, canhões de água e bombas de gás. Longas filas de ambulâncias se formaram para atender os feridos.
Os alemães protestavam contra uma ditadura do sistema financeiro internacional sobre os governos e as nações. A globalização seria a causa de desemprego e pobreza e resultaria na depressão de 2008 – a mais severa crise financeira do século, cujos efeitos persistem até hoje.
Em As Confissões, são convidados também para a reunião uma escritora infantil (Connie Nielsen, belíssima aos 51, lembre-se dela em Gladiador) e um músico (Johan Heldenbergh). Darão uma certa ternura às decisões do G8, principalmente no caso da Grécia, ameaçada por uma dívida externa que as regras do FMI tornaram impagável.
Problema do roteiro, também de Roberto Andó: há excesso de diálogos. Ficariam bem no teatro, são maus para o desenvolvimento da história, que têm elementos de thriller. Mas o resultado final é agradável e ficamos sabendo que uma das fórmulas para superar os problemas do mundo é seguir o ensinamento de São Francisco – “é dando que se recebe, é perdoando que se ganha o perdão”.
Não parece Renan, STF, Temer, o Brasil?
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