Grande atuação salva um pobre roteiro

.

 

ghjhjhjh

Bandidão dos bons. Esqueça o Jack Sparrow.

 

 

.

Aliança do Crime (Black Mass, 2h2min) tem um pecado original: o roteiro de Mark Mallouk and Jez Butterworth  não se livrou do texto do livro, de autoria de Dick Lehr e Gerald O’Neill, que são reporteres do Boston Globe (*). Só repórteres, nenhuma vocação para Truman Capote. Por isso a história se arrasta, lenta, sem densidade, explicada demais. Em compensação o casting é perfeito. Bandidos com cara de bandido de história em quadrinhos; mocinhos com queixo do Dick Tracy.

 

Desde o trailer somos informados que esta é uma história verídica sobre James “Whitey” Bulger, o maior gangster de Boston, um criminoso psicopata que conseguiu ser o segundo homem mais procurado pelo FBI – o primeiro era Osama Bin Laden. Aprendemos que Bulger tornou-se o bandido mais poderoso de Boston graças em grande parte a um acordo com o FBI local.

 

Vemos que o marginal tem um irmão na política. O Senador Billy Bulger (Benedict Cumberbatch), por 18 anos presidente do Senado Estadual do Massachussets, passa pelo filme de forma ligeira, como um honrado representante do povo. Para brasileiros acostumados com os malfeitos de parlamentares – principalmente parlamentares sucessivamente reeleitos para altos postos – é difícil acreditar que ele está ali por acaso.

 

Políticos, em regimes presidencialistas, não têm a força institucional de seus colegas eleitos no parlamentarismo. É muito comum que superem essa dificuldade servindo a grupos de interesse ou diretamente a organizações criminosas.

 

Agora, a questão do acordo. Um velho delegado de polícia ensinava que polícia não faz acordo com bandido, caso contrário vira bandido. A investigação é feita graças a pequenos delatores, que passam informações em troca de dinheiro ou favores. Ou pelo velho sistema do dá ou desce – quem não responde às perguntas do policial desce para o porão onde está instalado o pau-de-arara e o tanque de afogamento.

 

O filme conta que um agente especial do FBI John Connolly (Joel Edgerton) negociou com o maior criminoso da cidade informações sobre a Mafia que dominava o norte da cidade; em troca deu a ele liberdade para continuar operando na parte sul. Claro, o policial começa a ficar rico. Só ele. Os chefes não sabem de nada, como se a corrupção não fosse sistêmica, uma prática que começa no tira de rua e vai até o mais alto escalão policial, com a participação gulosa de lideranças políticas, igrejas e jornalistas.

 

Na “true story” escrita pelos repórteres do Boston Globe isso não acontece. Os dois investigadores corruptos são descobertos, os bandidos presos, um acordo de delação premiada funciona maravilhosamente. Na Boston do filme delatores premiados não delatam seletivamente, nem negam as informações perante os tribunais superiores. São delatores, digamos, republicanos.

 

Tirando as inconsistências do roteiro, temos direito a uma atuação redentora de Johnny Depp. Esqueça Jack Sparrow. É o Depp dos melhores momentos. Ele mostra que para grandes atores não é necessário um grande papel.

 

***

P.S. – Se quiser saber mais sobre o Boston Globe, importante jornal americano, assista Spotlight, lançado há pouco, com Mark Ruffalo, Michael Keaton. O filme, do diretor Thomaz McCarthy, foi aplaudido de pé no Festival de Veneza. Mostra o escândalo dos abusos sexuais na Igreja Católica de Boston. Spotlight é o nome da equipe de repórteres investigativos do jornal, que ganhou o Prêmio Pulitzer com as reportagens. A ironia é que o Boston Globe teve, no passado, um conselho editorial formado por importantes católicos irlandeses da cidade.

 

 

 

 

 

 

Esta entrada foi publicada em Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *