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Laurentino Gomes caminha para vender dois milhões de livros com sua trilogia “1808”, “1822” e “1889”, em que conta a vinda de D. João VI para o Brasil, a Independência e a proclamação da República. O sucesso foi tão grande que ele confessou hoje de manhã para seus colegas da Academia Paranaense de Letras que ainda não decidiu o tema do próximo livro.
Como jornalista que virou historiador, ele olha com interesse o momento atual – ano eleitoral, véspera do 7º pleito majoritário consecutivo, maior período contínuo de democracia neste século e no século passado. Mas também vê as ruas vazias de manifestantes do ano passado e os jornais cheios de títulos assustadores. A economia complicou, o mundo encolheu e as dificuldades estão batendo aqui.
Para Laurentino, é impossível analisar o que acontece agora sem voltar ao século 19.
Aquelas três datas são o DNA do Brasil. Ainda há o problema dos escravos ( temos 16 milhões de analfabetos), a estridência da imprensa (tão livre hoje como no Segundo Império) documenta o recorde de corrupção dos políticos e o deserto de idéias da política.
Então, exige-se uma nova proclamação da República.
Ainda não são as vivandeiras de 1964, mas há gente que marcha com a família e lembra o tempo dos generais. “É a nostalgia monárquica”.
Laurentino defende a idéia de que o Brasil tem saudades do Império porque a monarquia oferecia soluções prontas e hoje pede-se à sociedade que se organize para elaborar soluções.
Ai entra o nosso lado Macunaima. Ai que preguiça…
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No final, lembrei Raymundo Faoro, o advogado gaucho que ajudou os brasileiros a entenderem melhor seu país. A grande obra de Faoro esteve ameaçada de encalhar nas prateleiras das livrarias. Ou – pior – de nem ser editada. Era um enorme volume (mais de 900 páginas) com um título difícil: “Formação do Patronato Político Brasileiro”. A diretoria da Editora Globo e o autor começaram a quebrar cabeça para achar um título com mais pegada. Estavam quase desistindo quando chegou Erico Veríssimo com a solução: “O nome do livro vai ser “Os Donos do Poder” – um título à prova de encalhe, como ficou provado nos anos seguintes.
Perguntei a Laurentino se ele teve um Erico Veríssimo. Não teve. O “1808” surgiu de repente, numa madrugada, sem ajuda externa.
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