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O personagem do momento poderia ser o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato como responsável pela lavagem de 10 bilhões de dólares. É o mesmo do Escândalo do Banestado, de 2005.
Ou Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Ele foi preso em casa na manhã de quinta-feira por ocultar provas da Justiça e também deve ser investigado por corrupção passiva.
Ou o diretor internacional da estatal Nestor Cerveró, autor do resumo técnico que orientou o Conselho na compra da refinaria de Pasadena. (US$800 milhões de prejuízo para a Petrobrás).
Ou a própria Presidenta Dilma Rousseff, que admitiu ter decidido o negócio baseada em documento falho – e chamou para si os holofotes da mídia indignada.
Ou – olhando para o outro lado – os governadores Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, que administraram o estado mais rico do país e compraram trens de metrô superfaturados da alemã Siemens, que denunciou a maracutaia em troca de tratamento diferenciado pela justiça brasileira.
Ou o governador Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, que vai entregar o Estádio Mane Garrincha ao custo de 1,6 bilhão (mais de 22 mil reais por assento), quando o orçamento original era de 700 milhões e o TCU já achou 498,7 milhões de superfaturamento.
Ou o ex-governador Eduardo Azeredo, de Minas Gerais, acusado de peculato e lavagem de dinheiro para ganhar a eleição de 1998.
Ou a governadora Roseana Sarney, responsável no mínimo por omissão pelo massacre no Complexo de Pedrinhas, onde presos foram decapitados em motim e forneceram ao mundo a imagem dos criminosos jogando futebol com suas cabeças.
É muito vilão para nossa pobre dramaturgia política.
Pior, os escândalos se repetem há décadas.
Lembra do caso da Ferrovia Norte-Sul, no governo Sarney? A licitação ia ser fraudada, conforme denunciou Janio de Freitas na Folha de S. Paulo, através de um anunciou classificado cifrado.
A concorrência foi suspensa, e os responsáveis nunca foram punidos, como não foram para a cadeia os culpados pelo Caso Banespa, ocorrido pouco antes. Em 1988, o Brasil indignou-se porque o presidente José Sarney escapou do impeachment e de nove acusações feitas pela CPI da Corrupção.
Meses depois, o Instituto Vox Populi faz uma pesquisa nacional que permitiu ao sociólogo Marcos Coimbra informar a seu primo Fernando Collor que, sim, havia lugar para ele entre os candidatos à Presidência da República.
A opinião pública elegera a corrupção como o problema nacional mais grave. Os eleitores estavam dispostos a votar em alguém realmente revoltado com os malfeitos. (Pois existem pulhas moderadamente revoltados). O jornalista Mario Sergio Conti, em seu livro “Notícias do Planalto” escreve:
“Dois terços dos eleitores queriam alguém indignado com a roubalheira. Que tivesse ímpeto e energia para tirar o Brasil do subdesenvolvimento. Que fosse corajoso e não entrasse no jogo tradicional da política. Não pertencesse ao esquema de poder e tivesse um passado limpo.”
Deu Collor na eleição de 1989. Como poderia ter dado Lula, também visto como honesto e corajoso. E até Afif Domingos, se não perdesse o discurso (e ficasse sem dinheiro) no meio da campanha.
O drama da política brasileira é exatamente esse. Os enredos se repetem. O eleitor, tonto de tanta corrupção, vota errado de novo.
Eis o caveat: há no imaginário popular espaço para um novo herói em seu cavalo branco, que jure acabar com os malfeitores.