Feriadão sem a escravidão dos engarrafamentos. Bom para aplaudir a grande performance de Chiwetel Ejiofor

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A Academia de Hollywood acabou a segregação. Bom para Ejiofor.


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O carnaval é um feriadão maravilhoso para quem ficou em Curitiba.

Por-se em sossego só traz vantagens. Você não precisa enfrentar quatro horas de estrada perigosa para chegar a Pontal do Sul. Não sera explorado ao entrar no supermercado porque esqueceu de levar laranja e detergente. Está livre da fila na padaria (onde o pão é batizado com toneladas de bromato). Não terá o desgosto de descobrir que um ladrãozinho entrou na sua casa e levou a TV.

Aqui, temos as ruas sem engarrafamento, os ônibus sem greve e os filmes – os do Oscar e os outros. Muitos são bons, alguns são ótimos e há os excelentes como esse corajoso 12 Anos de Escravidão. Desconfio que só poderia ter sido feito na Inglaterra porque nos EUA persiste a aversão ao debate sobre a escravatura.

Durante 133 minutos, o diretor Steve McQueen, nascido em Londres, reconstroi a história de um músico negro, homem livre, (Chiwetel Ejiofor, grande atuação, candidato ao Oscar de melhor ator) raptado por mercadores de escravos e devolvido aos campos de algodão da Luisiana. Brad Pitt, um dos produtores, faz um papel secundário mas importante.

David Cox, no Guardian, conta que McQueen baseou-se, para filmar 12 anos de Escravidão, num livro de memórias de Solomon Northup com o mesmo título escrito em 1841. “De acordo com o mito, o trabalho desapareceu de circulação instantaneamente para ser redescoberto apenas agora pela esposa de McQueen. Como as Memórias de Anne Frank, só encontradas muitos anos depois do nazismo derrotado.”

Não é verdade. O livro já tinha sido adaptado para televisão, em 1984, pelo diretor Gordon Parks, o mesmo de Shaft. Produzido com o apoio financeiro da National Endowment for the Humanities, a Odisseia de Salomon Northup foi exibida pela PBS, rede de emissoras públicas. E só.

Chad Williams, na revista Humanities, lembra que o filme recebeu pouca atenção, talvez porque o roteiro submeteu-se a uma série de restrições e cuidados, ao contrario do que acontece hoje com seu remake produzido com absoluta liberdade. “Ele merece reconhecimento por oferecer um retrato da escravidão nos EUA feito com coragem, detalhes e pesquisa histórica. O filme atual credencia-se a maiores aplausos não apenas por ser uma bela obra de arte, mas porque parte de um esforço para contínuar lembrando a saga de Northup e a história mais ampla da escravidão”.

Os produtores de Hollywood nunca lidaram bem com a questão dos escravos.

No clássico The Birth of a Nation (D.W. Griffith, 1915) surgem centenas de escravos. Mas eles são mostrados como brutos merecedores de seu destino.

Em 1940, Hattie McDaniel ganhou um Oscar pelo papel da escrava da casa Mammy, em …E o Vento Levou, mas sua personagem era cúmplice do sistema. Na cerimônia de entrega dos prêmios ela foi sentada numa mesa separada. Segregada.

Mandingo (Richard Fleischer,1975) celebrava a violenta sexualidade negra. Foi classificado de “lixo racista” por Roger Ebert.

E agora, o que acontecerá amanhã, quando a Academia de Hollywood decide entre as qualidades de 12 Anos de Escravidão e Gravidade, outra obra de arte? Só há uma certeza – se for o vencedor, McQueen não precisará subir num palco segregado, primeiro por ser inglês, segundo, porque segregação deixou de ser politicamente correta.

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