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179 minutos!
Não acredito que fiquei CENTO E SETENTA E NOVE MINUTOS, três horas, assistindo à comédia-trash de Leonardo di Caprio e Martin Scorcese, que repete e repete e repete a mesma e exaustiva orgia de crack, cocaína, Qualude, Mandrix, Adderall, Xanax, maconha, uísque e morfina “porque é maravilhosa”.
E – incrível! – valeu a pena. Se você não tem dores na coluna e resiste às cadeiras do Cinemax Mueller, vá viver essa experiência.
Há algumas chaves para entender o enredo dessa comédia noir sobre Wall Street, baseada na vida real de do corretor Jordan Belfort. Comece jogando num liquidificador FBI, corrupção, corretor de ações, riqueza, festa, orgia, suruba, cocaína, crime do colarinho branco, banqueiro suíço, festa gay, títulos podres, sexo no avião, festa na piscina, discurso motivacional, câmera oculta, narração em off, dominatrix, divórcio, adultério, alucinações, flashback, mercado de ações, iate de 70 pés, Mediterrâneo, sexo no elevador, vulgaridade.
O essencial está ai. Mas você pode acrescentar dois guarda-costas (os dois chamados Rocco), nu frontal masculino, masturbação em público, helicóptero, advogados, desregulação financeira, dirigir dopado, tráfico de drogas, dinheiro na cueca, tempestade em alto mar, casamento em crise, violência doméstica, Bahamas, boquete no carro, tapa na bunda, Bolsa de Valores.
Ao meu lado, lá pelo 120º minuto de filme (teve ainda 15 de comerciais e trailers) um cara levantou para ir ao banheiro. Não estava preparado para tanto tempo sem xixi. Acabou a pipoca de todo mundo deixando no ar um cheiro de gordura trans superaquecida.
A história de Jordan Belfort/Di Caprio, repete muitas outras que denunciam a corrupção do mundo financeiro. Só que ela não denuncia nada – foi escrita para divertir. Quando ele entra para a corretora, o chefe convida-o para almoçar. Vem o garçon e Di Caprio pede:
-Para mim, água mineral.
O corretor-guru (Matthew McConaughey, num papel lamentavelmente pequeno) explica:
-Primeiro dia em Wall Street. Você vai ver daqui a um tempo.
Depois vemos Belfort explicar o método de negócio e concluir:
-Isso está dentro da lei? Claro que não.
Lá na frente, uma das frases-bordão do filme:
-Eu não quero morrer sóbrio!
É bom insistir: não se trata de uma crítica ao capitalismo cúpido comandado pelo setor financeiro. O filme não tem mensagem. Não há julgamento moral. É apenas um show de Martin Scorcese, um mestre do cinema.
Os críticos norte-americanos adoraram. Os ingleses foram um pouco mais reticentes. Assim mesmo, Christopher Orr, do Daily Mail, concorda que o filme é uma aula magna de técnica cinematográfica, dada pelo catedrático em pessoa. E chama a atenção para o conjunto de efeitos estonteantes e piadas visuais, além de citações e referências que atestam a enormidade do universo cinemático que Scorcese continua dominando aos 71 anos.