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Vejo no jornal que Oscar Peterson está no Blue Note. Mas só hoje à noite.
O Blue Note é o único local de visita obrigatória em Nova York. Devia constar em todos os guias e na Constituição dos Estados Unidos. Se essa terra tem um exemplo de fraternidade universal, de tolerância cósmica é o templo do jazz do Village, frequentado por hordas de brasileiros, japoneses e agora chineses.
Não dá para fazer reserva. Sold out.
Se fosse um cidadão inglês me conformava. Como brasileiro, malandro, inzoneiro, peguei o trem A, desci na Rua 4 e fui para a fila das reservas canceladas. Uma garçonete brasileira passava e ouviu minha prece.
-Serve no bar?
Claro que serve, amiga irmã. Porque do bar passei para uma mesa com mais seis pessoas. Ou oito. Uma inacreditável mesa frente ao piano.
Oscar Peterson que lutava contra a artrite, sofreu um derrame em 1993. Levou dois anos se recuperando e voltou aos shows. Estava limitado à mão direita, a esquerda servia para garantir o swing nos graves. Mas que mão direita!
Na mesa apertada todos ficamos obrigatoriamente íntimos. Um casal de professores de Coney Island conta que vive no melhor lugar da cidade, considerando o custo/benefício. Para chegar, só vinte minutos de trem, a linha D é expressa, eles descem na Rua 4 e caminham um pouco. Havia também dois colombianos e não sei mais quem.
É de arrepiar ver os 125 quilos de Oscar Peterson caminhando pelo palco, uma alegria só. Começar com os standards, um depois do outro, um melhor do que o outro, até fim do horário do primeiro set . Foi embora sem muita despedida, apenas aquele grande sorriso.
Achei no arquivo o tocador de marimbas de uma estação do trem A e no You Tube uma gravação de Take the A Train de 1968, onde se ouve Peterson em grande forma. Depois da doença, ele gravou um disco pela Verve, que acho muito bom, mas os críticos dizem que não é seu melhor trabalho.
É época de celebrar Oscar Peterson, que morreu um dia antes do Natal – 23 de dezembro de 2007.
Em sua biografia ele conta o segredo que ensinou a seus alunos de jazz na Universidade de Toronto – estudem Bach, especialmente O Cravo Bem temperado, as Variações Goldberg e a Arte da Fuga. Quem aprender será um pianista sério no futuro.