.
.
As palavras de Felipão estão na primeira página do New York Times:
-Se for possível, vamos jogar um futebol maravilhoso e vencer a Copa; se não for possível, vamos só vencer a Copa.
A decisão decorre de um diagnóstico: tem que ganhar ou ganhar. Os torcedor fica doente quando a seleção deixa de vencer um simples amistoso. Se perdermos a Copa do Mundo, brasileiros vão morrer.
O centro-avante Fred contou ao NYT que Felipão passou essa informação aos jogadores como forma de motivar o time. Uma carta foi colocada debaixo da porta de cada um na véspera do jogo decisivo da Copa das Confederações.
O estilo literário do nosso treinador é meio barroco, puxado para o parnasiano, com toques de ordem-do-dia. “O sol nos sorri, com seus raios de esperança, e está lá para dizer: vão e cumpram sua missão”. (Desculpem pela tradução apressada.) Na famosa carta há citações inspiradoras, que começam com Martin Luther King e chegam a Walt Disney.
Os jogadores entenderam a mensagem. O resultado positivo ia elevar o sentimento nacional; e uma derrota enterraria a pátria de chuteiras em trágica, irredimível depressão.
O autor da matéria, colunista esportivo Sam Borden, foi meio reducionista ao concluir que povo brasileiro está pouco ligando para os monumentais custos dos estádios ou para as obras superfaturadas da infraestrutura – o que lhe interessa é levantar o caneco. Mas acerta ao dizer que, se o Brasil vencer, Dilma Rousseff terá bem pavimentado o caminho da reeleição. Em 1970, após conquistar o tri, o general Médici atingiu picos de popularidade que desconhecia.
A estratégia de Felipão é construída com ajuda da psicoterapeuta Regina Brandão, professora da Universidade São Judas Tadeu, de São Paulo. Eles trabalham juntos desde 1990 e representam uma tendência mundial de usar a psicoterapia como ferramenta para preparar o time.
Jungen Klinsmann também chamou seu psicólogo para ajudar a montar o time da Alemanha que venceu a Copa de 2006. Agora, ele é treinador da seleção dos Estados Unidos.
Regina Brandão e Scolari estudam as fichas dos jogadores brasileiros e as comparam com os perfis psicológicos dos jogadores das seleções de Portugal e da Arábia Saudita, com quem trabalharam anteriormente.
As perguntas feitas aos craques são tabuladas em fichas com carinhas tristes ou alegres, que representam o sentimento de cada um diante de situações propostas. “Como você se sente quando faz um gol contra?” “Um cartão amarelo?”
As observações da psicóloga indicam que os jogadores portugueses são muito menos sensíveis aos fatores do jogo e também aos extra-jogo. Um brasileiro, ao contrário, pode jogar mal porque o contrato com seu clube está no fim e ele não sabe se vai ser renovado.
PS – O autor desta matéria, Sam Borden, foi indicado um dos cinco melhor colunistas esportivos dos Estados Unidos quando trabalhava no The Journal News, de Westchester. Ganhou o prêmio dos editores de esporte da Associated Press.