Em caso de chuva, frio e internet quebrada

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Na estante de ficção, muitas traduções.

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Quem vai à praia no inverno sabe que pode viver momentos dramáticos quando chove, faz frio e a internet cai. Para se garantir leve uns livros. Se são bons ou ruins você descobre depois.

Na Livraria Curitiba da Boca Maldita, nem olhe para os mais vendidos, só verá autoajuda. A Coragem de Ser Imperfeito, de Benny Brown, Pai Rico, Pai Pobre, Hábitos Atômicos, de James Clear. Arre!

Na outra prateleira, traduções. Temperança, de Beverley Watts, O Fogo Eterno, de Rebecca Ross, Rei da Preguiça, de Ana Huang. Quem é Ana Huang? Filha de chineses, nasceu na Flórida e, numa entrevista, afirmou: “O processo de escrita nunca é fácil, mas estou aprendendo a trabalhar com ele, em vez de contra ele”. Guarde distância dessa sino-americana.

Continuando a busca você achará Colleen Hoover. Confira na Wikipedia. Margaret Colleen Fennell (Sulphur Springs (*), 11 de dezembro de 1979), depois Hoover, é uma escritora norte-americana que, de acordo com a Editora Record, vendeu 1.489.784 livros no Brasil em 2023. No mundo vendeu oito milhões. Mais do que a Biblia.

Compra ou não? Para decidir, vá ao ABC da Literatura, de Ezra Pound (**). Na página 83, Pound ensina que muito rancor crítico foi gasto inutilmente pela incapacidade das pessoas reconhecerem que há dois tipos de literatura.

A literatura do tipo A é aquela que você lê para “desenvolver suas capacidades, com o objetivo de conhecer mais e perceber mais”.

Os livros do tipo B são concebidos e utilizados como repouso, narcótico, ópio, leitos mentais.

Collen Hoover é do tipo B.

Uma formuláica tipo B. Com a fórmula do século 21. Os personagens são jovens de vinte e poucos anos. Ao contrário do passado, agora eles não são separados pelos pais porque as famílias se odeiam. Nem pela sociedade porque ela é rica e ele pobre. Nem pelo preconceito de cor ou religião. Eles são separados chan chan chan chan pela própria falta de interesse em amar.

Pelo vazio interior.

Ah, mas isso é do século passado. “Você não sabe amar, meu bem, não sabe o que é amor/ nunca sofreu… Isso o Chico e o Carlinhos Guinle escreveram em 1973”.

Eles nunca ouviram falar no Chico Buarque. Estão ocupados com os compromissos, as redes sociais, as modas mutantes. E com sexo, desde que seja casual. E meio depravado. Hoover teve sucesso com seu romance erótico.

Só que, de repente, o twist. Aparece um compromisso, eles vão morar num apartamento moderníssimo, tipo reality show, como parte de um negócio e descobrem a felicidade de conversar sobre poesia no café da manhã, enquanto pesam na balança indicada pela food stylist e conferem na tabela a quantidade de proteína em cada ingrediente.

Um ovo = 13 gr. A felicidade é filha da precisão.

Hoover escreve para jovens adultos até 35 anos. Garanto que com ela você passará horas em estado de graça, feliz e entorpecido. Mas cuidado porque seu cérebro poderá exigir doses cada vez maiores dessa literatura B para você continuar a se sentir um adulto de até 35 anos.

Em resumo, só leia Colleen Hoover se for voluntário de um experimento controlado.

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(*) – Sulphur Springs, como o nome indica, era um balneário de águas sulfurosas.

A Dorizon deles.

(**) – Se Ezra Pound era nazista, minha senhora? Parece que era. Mas o que tem isso a ver com literatura?

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