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O que dizer de um filme que começa com um monólogo em que o principal ator olha sério para a câmera e confessa: “Quando eu era criança, o futuro era diferente”. Heim? Pois é assim mesmo, com essa platitudes e advertências estilo “Admirável Mundo Novo”, que rola esse Tomorrowland.
Estamos diante de uma superprodução dos Estudios Disney, estrelada por George Clooney. (Tomorrowland é também o nome de uma das atrações do parque temático da empresa). O diretor é Brad Bird, de Mission: Impossible—Ghost Protocol e Ratatouille. Roteiro de Damon Lindelof, de Lost e Star Trek. Edição de Walter Murch, de Apocalipse Now.
Uma produção de $190 milhões de dólares, que na primeira semana de exibição rendeu $32,972,000 nos Estados Unidos e mais $32.900.000 pelo mundo, em oito mil salas de cinema.
É a história da adolescente brilhante Casey Newton (Britt Robertson), cheia de curiosidade científica, e do ex-futuro inventor genial Peter Walker (George Clooney), que desiludido transforma-se em ermitão. Os dois acabam se reunindo, movidos pelo que os roteiristas chamam de “destino compartilhado” e saem em busca de um local misterioso, em algum lugar do espaço e do tempo, chamado Tomorrowland.
Na busca, são auxiliados por Athena (Raffey Cassidy), uma menina-robô muito judiciosa, que não foi programada para ter idéias. Mas tem.
Na Feira Mundial de 1964, onde o filme começa, existe a certeza de que o futuro é um lugar brilhante e pacífico, sem guerras, fome ou ignorância. Mas em 2015, onde a ação se desenrola, o futuro está cheio de ataques de drones, geleiras da Antártica em derretimento e paus de selfie.
Trata-se de uma contribuição da Disney para melhorar o mundo – ao menos o mundo de George Clooney, que recebeu um pedaço razoável daqueles $190 milhões de dólares do orçamento. Em troca de tanto dinheiro, concorda em contracenar com um robô. E chorar pelo destino do mundo.
Não temos muita esperança, nas palavras de David Nix (Hugh Laurie), o chefão de Tomorrowland: “Vocês têm simultaneamente epidemias de obesidade e fome. Abelhas e borboletas começam a desaparecer do planeta, junto com os canários das minas de carvão. A cada minuto surge uma possibilidade de melhorar o mundo, mas vocês não acreditam nela. E porque não acreditam nada fazem para tornar a possibilidade realidade.”
Há informações científicas relevantes. Em determinado momento, Casey, Peter Walker e Athena, em um foguete, passam de uma dimensão para outra. Aprendemos que essa transição provoca muita sede. Tanto que, logo na chegada, Walker indica aos companheiros de viagem: “There’s Coke in the fridge”. E todos matam a sede com uma deliciosa Coca-Cola.
O filme está cheio de boas frases. Diz Casey Newton: “Há dois lobos em eterna luta. Um é escuridão e desespero. O outro é luz e esperança. A questão é…qual lobo será o vencedor?”
Responde Eddie Newton: “Aquele que você alimentar.”
Outro diálogo inspirador, agora entre Casey e o irmão pequeno.
-Por que você ama tanto as estrelas?
-Porque eu quero ir até elas.
-Que tal se você não encontrar nada?
-Que tal se eu encontrar tudo?”
Bem no início do filme, Frank Walker pré-adolescente (Thomas Robinson) comparece à Feira Mundial de 1964 para apresentar sua invenção, uma mochila-voadora. Um juiz do concurso chamado David Nix (Hugh Laurie) olha para a mochila-voadora e pergunta:
-Ela vai fazer do mundo um lugar melhor?
Frank responde:
-Não pode ser apenas mais divertido?
O crítico Anthony Lane, do NewYorker, pega o mote para lamentar que o filme seja tão cheio de discursos.
-Não podia ser apenas divertido?
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