Nômades no Guairão – uma imensa irresponsabilidade que terminou em standing ovation

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Belas atrizes e texto feio no teatro errado.

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O garoto que levou a namorada para assistir a Nômades, ontem, no Guairão, estava meio sem graça no final da peça. Com um sorrisinho amarelo
comentou:

-Diferente, né?

Foi uma irresponsabilidade trazer Nomades para o Guairão. O espetáculo de Andrea Beltrão foi feito para o Teatro Poeira, do Rio, que fica em Botafogo e tem 200 lugares. Uma sala aconchegante.

Mas fazer Nômades num teatro dez vezes maior foi uma falta de respeito que deve ser cobrada dos organizadores do Festival de Curitiba.

No mínimo teriam que resolver o problema do som. Não se entende o diálogo.

As atrizes imitam astros da musica pop. A cinco metros você reconhece as imitações. A 50 metros, não se vê direito o rosto mal iluminado da atriz. Talvez com uma nova marcação melhorasse. Todo mundo na plataforma da orquestra, que tal?

Mesmo no Rio, a peça sofreu restrições.

“Aparentemente, escreveu Macksen Luiz, do Globo, o roteiro de Marcio Abreu, Patrick Pessoa e Newton Moreno, com a colaboração das atrizes em cena, trata de desdobramentos emocionais de três amigas diante da morte de uma quarta. As repercussões do desaparecimento de alguém de comportamento libertário, que viveu intensamente, explorando seus limites e que morre sem aviso, provocam em mulheres de geração semelhante a verificação do lugar de sobrevivente num instante de desequilíbrio.” O crítico termina elogiando as atrizes, em especial Andrea Beltrão, “uma força do teatro”.

Já a leitora Lia Simões Figueirinha não foi tão generosa. “Um verdadeiro desperdício de talentos!! Pena… Três atrizes que admiro muito, apresentando um espetáculo horroroso! Há muito tempo não via “coisa” igual!…”

Outro leitor, Marco Antonio Marques Cortez, escreveu: “Dava pena das atrizes, pois pareciam perdidas sem ter a minima noção do que estavam fazendo.”

Então estamos de acordo: a peça é fraca, a transposição da sala intimista do Rio para o grande auditório do Guaira, de 2.200 lugares, foi descuidada, poucos entenderam o texto.

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A peça poderia ter sido vaiada. Mas – estarrecedor! – o Guairão inteiro se levantou e aplaudiu em pé.

Uma standing ovation (*) como poucas. Diga uma coisa, leitor: não era em Curitiba que Paulo Autran dizia morar um dos melhores e mais exigentes públicos do Brasil?

O que mudou na cidade universitária, acostumada a aplaudir o que merece aplauso e a criticar o que não tem qualidade?

Baixaram os preços e distribuíram centenas de convites. A qualidade do espectador baixou. Veio a garotada que precisava de lugar para entreter a namorada numa sexta-feira santa. Jovens saudáveis, acostumados a pular durante horas np show de rock. Para eles não custa levantar e bater palmas.

O crítico de teatro John Lahr, do New York Times, explica essas standing ovation imerecidas, que se multiplicam também nos Estados Unidos e na Europa, têm uma complexa dinâmica psicológica. “A platéia que aplaude de pé qualquer coisa quer uma auto hipnose. O raciocínio deles é simples: “Se eu aplaudo de pé é porque me diverti muito”.

Eles estão tentando dar a si mesmos a experiência que imaginam que deviam ter.

Serve para o rapaz que disse: “Diferente, né?

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(*) – Aplaudir em pé.

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