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Renê Dotti nasceu em 15 de novembro de 1934, o Dia da República.
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Somos muitos a prantear a perda de Renê Dotti: colegas jornalistas e advogados, antigos clientes, confrades da Academia Paranaense de Letras, companheiros da Boca Maldita, onde Renê brilhava, com seu fino humor, como orador do famoso jantar anual.
Estou em todas essas categorias. Estive com ele na redação do Diario do Paraná, na Boca Maldita, na APL e na Auditoria da 5ª. Região Militar, durante um momento sombrio e bizarro de 1964.
Difícil porque, como todo Brasil, o Paraná vivia um clima de radicalização política, de ódio entre irmãos. Bizarro porque esse ambiente permitiu a um promotor delírante imaginar que a redação curitibana da Ultima Hora era uma célula do comunismo internacional. Ofereceu denúncia contra 26 profissionais de imprensa, pedindo para eles penas que, somadas, alcançavam mais de 400 anos de prisão.
Renê se indignou e assumiu seu lugar na equipe de defesa em que estavam os advogados José Carlos Alvim, Serrano Neves, Raul Lins e Silva, Elio Narezi, Alir Ratacheski, Alberino de Mattos Guedes, Ildemar Teixeira Soares, Aurelino Mader Gonçalves, J.E. Soares Camargo, Antonio Alves do Prado Filho, Antonio Acir Breda e Jorge Bueno Gomm.
“O libelo oferecido contra os profissionais de imprensa é uma autêntica comemoração do estádio barbárico do Direito Penal, quando se ignorava o primado da culpabilidade para a imposição de pena e os réus deveriam deduzir a acusação nos autos ou fora deles, numa completa subversão da natureza do processo criminal acusatório”, escreveu Renê no pedido de habeas corpus impetrado junto ao Supremo Tribunal Federal.
A denúncia foi julgada inepta e mandada arquivar. Mas dela ficou o ensinamento: a Justiça é um conceito abstrato que exige empenho e talento para se materializar. E acima de tudo demanda coragem para enfrentar os tribunais da inquisição que existiam e continuam existindo por aí.
Vamos sentir falta do Renê.
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A palavra limousine vem de uma cidade na França chamada Limousin e originalmente não era um veículo mas sim uma peça de roupa. Os pastores em Limousin criaram uma capa de chuva com um capuz para protegê-los e era a essa capa que chamavam de limousine. Eventualmente, os construtores de carroças de Paris começaram a chamar de limousine as carroças cobertas.
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Em Curitiba, há três empresas e cinco limousines, que servem principalmente para aniversários. O aluguel é por hora. A limousine rosa da Pink Track, por exemplo, que é um PT Cruiser adaptado, com 10 metros de comprimnto, cobrava R$ 750 a primeira hora. As outras horas adicionais custavam R$ 400. Com a pandemia veio a inflação do luxo – o preço subiu.
A empresa Quality Vip tem um Chrysler 300c de cor branca, que transporta até 8 pessoa. Há limousines mais espaçosas, como uma GMC Suburban de cor preta, também da Quality Vip, que transporta até 14 pessoas (ela tem 12 metros quadrados).
Melhor consultar para saber onde foi parar o preço.
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Primeira página da Ultima Hora, agosto de 1963
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A opinião é livre, mas os fatos são sagrados.
(Motto do jornal The Guardian)
Eis a primeira lei do jornalismo: você pode achar o que quiser, mas primeiro informe o leitor sobre o que aconteceu. De maneira rápida, direta e, se possível, em bom português.
Nem sempre isso acontece. Um exemplo foi o grande incêndio florestal do Paraná em 1963. O fogo começou em agosto, quando lavradores fizeram as tradicionais queimadas preparando o campo para a próxima safra.
Naquele ano havia a combinação de muito frio e longa estiagem. Na lavoura seca, o forte vento transformou a queimada em fogo descontrolado que se propagou pelo interior.
Uma tragédia: famílias perderam lavouras, casas e parentes. O número de mortos varia segundo a fonte – de 89 a 250 pessoas. Dos 163 municípios, 128 sofreram com o fogo. Dos 1,3 milhão de pés de café, 693 mil teriam sido atingidos e a safra prevista de 16 milhões de sacas ficou em 4 milhões. Ao todo, uns dois milhões de hectares queimados.
O governo federal transferiu imediatamente ao governo do Paraná um bilhão de cruzeiros ou um milhão de dólares, (quase US$9 milhões de hoje). Era o início do auxílio que beneficiou sobretudo quem tinha ligação com o governo federal, através da Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil.
O auxílio veio de toda parte. Bombeiros de vários estados. Equipes médicas do Brasil e do exterior, do U.S. Peace Corps, da Cruz Vermelha Internacional, voluntários da Argentina e de outros países. Caixas de antibiótico, plasma sanguíneo, bandagens chegavam em aviões cargueiros.
E jornalistas.
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Em cada cidade, o povo tinha histórias para contar. Gente que perdeu a casa, a lavoura, o parente próximo, vítimas do fogo que avançava a 30 quilômetros por hora. À procura desses personagens e de imagens chocantes, chegaram equipes da Associated Press, UPI, France Press, free lances a serviço da BBC, NBC, CBS. Emissoras de rádio logo formaram uma Cadeia da Solidariedade, com comando em São Paulo. Equipes de reportagem de jornais e revistas do Brasil competiam pelas melhores narrativas, as imagens chocantes, os número mais sensacionais.
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Com o tempo entra em ação o filtro da história. Aos poucos aparece o fato escondido atrás da manchete. Só para conferir um dos número mais citados: será que o prejuízo foi mesmo de 12 milhões de sacas de café?
Provavelmente não. Os professores Letícia Aparecida Paixão e Angelo Aparecido Priori, da Universidade Estadual de Maringá, publicaram um artigo intitulada “As transformações sócioambientais da paisagem rural a partir de um desastre ambiental (Paraná, 1963)”
Os autores tentam “compreender o real significado do evento e a forma como ele está inserido em um contexto mais amplo, marcado pela erradicação dos cafezais na região norte e pelo desflorestamento da região central do estado.”
Os incêndios de 1963 queimaram um total de 2 milhões de hectares no Paraná, sendo 20.000 de plantações, 500.000 de florestas primárias e 1.480.000 de campo, matas secundárias e capoeiras.
Seriam então 20 mil hectares de cafezais envelhecidos (algumas lavouras com 18 anos ou mais), que passava por um processo de erradicação liberando espaço para outras culturas, sobretudo para a pastagem, e a região central do estado, onde estavam localizados os remanescentes de floresta nativa e o reflorestamento de pinus e eucalípto implantado pela Indústria Klabin.
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Ninguém sabe o tamanho do auxílio financeiro federal, mas é certo que ninguém reclamou. O presidente João Goulart correu para ajudar. Além do obvio interesse em recuperar a economia paranaense, queria fortalecer os laços com o governador Nei Braga, um dos políticos que melhor transitava pelos quarteis naquele período turbulento da vida republicana.
Os números do “Paraná em Flagelo” não apareceram na mensagem do governador à Assembleia Legislativa, em janeiro de 1964. Talvez porque o levantamento dos prejuizos não estivesse concluído. Talvez porque as conclusões fossem inconsistentes. Talvez para não decepcionar o leitor que consumira avidamente as reportagens sobre a tragédia.
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Todo mundo tem um.
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O corpo humano é maravilhoso e em algum lugar tem embutido um equipamento que Ernest Hemingway chamava de shitdetector. O SD é inquebrável, tem bateria para toda a vida e não aciona aquelas portas antimagnéticas dos aeroportos.
Era destinado a jovens escritores indecisos ante aquilo que acabavam de produzir. Identificava – olha as merdas que você escreveu – e o jovem escritor podia preparar coisa melhor.
Mais tarde descobriu-se que o SD era capaz de denunciar merdas produzidas por outros escritores, técnicos de futebol, gente do governo – e apareceram, respectivamente, o crítico literário, o comentarista esportivo e o analista político.
Neste momento há pessoas enriquecendo com a pandemia, multidões com fome, mas a maioria dos políticos só fala em reformas. Só as reformas resolvem é o mantra deles o tempo todo.
Que aconteceu com o shitdetector do pessoal da Globo News, da Folha, do Estadão?
A explicação vem da ciência. Alguns detectores vieram com Botao Interruptor Liga Desliga (Power switch on-off).
A turma da GloboNews trabalha no off.
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Shirley MacLaine e Jack Lennon em 1960. Valeu um Oscar.
Um falso cognato.
Em inglês, sycophant é aquele cara que age obsequiosamente com superiores para levar vantagem. Um puxa-saco.
Em português, a palavra muda de sentido. Segundo o Dicionário do Aurélio, sicofanta é a pessoa mentirosa, difamadora, velhaca.
Assisti novamente no Prime Video a Se o Meu Apartamento Falasse, a obra prima de Billy Wilder que ganhou o Oscar em 1960.
É a história do sycophant C.C. Baxter (Jack Lemmon), de seu chefe Jeff Sheldrake (Fred MacMurray) e da namorada dos dois Fran Kubelik (Shirley MacLaine).
Baxter seria um contador insignificante de uma grande seguradora de Manhattan se não morasse em um apartamento muito bem situado no Upper West Side.
Ao atender gentilmente pedidos de colegas mais relevantes, que precisam de lugar para aventuras extramatrimoniais, consegue ingressos para peças da Broadway e é colocado na lista de promoções.
O mais importante dos frequentadores do apartamento é Jeff Sheldrake, o chefão da companhia, que oferece a Baxter um lugar na diretoria em troca da exclusividade no uso do ponto de encontro.
Ele está levando para lá a linda ascensorista Fran, por quem Baxter tem uma queda. A solução desse triângulo amoroso é inteligente, divertida e até transmite um pouco de esperança no caráter da humanidade.
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O critico Philip French chama a atenção para a falta de confiança de Billy Wilder na natureza humana. Os personagens que ele cria facilmente se tornam cafetões, gigolôs, ladrões, contrabandistas, assassinos.
Em Sunset Boulevard, o escritor fracassado se aproveita da atriz envelhecida;
Em Beije-me, Idiota um compositor está pronto para entregar sua mulher ao cantor que dará publicidade às suas canções;
Em Irma La Douce, um policial vive às custas de uma prostituta.
E temos o sycophant de O Apartamento, que sobe na vida alcovitando os chefes adúlteros.
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Janela do Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, no Tatuquara. (Foto Tribuna do Paraná)
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No Plural, Rogério Galindo conta que o governador Ratinho Jr. (PSD) matriculou seus três filhos na International School of Curitiba. Renato Feder, o secretário de Estado da Educação, também levou o filho para lá, assim como Guto Silva (PSD), chefe da Casa Civil. Não é barato. Cada estudante representa 7 mil reais de mensalidade, fora outras despesas.
As classes médias estão empobrecidas, mas assim mesmo mandam os filhos para o Santa Maria, Positivo, Bom Jesus. Custa uns 1,5 mil por filho ou o dobro se em período integral.
E os filhos do povo em geral estão em escola pública, onde o ensino é gratuito, mas em compensação as condições de aprendizado estão cada vez piores.
Isso quer dizer que, no futuro, haverá castas no Brasil, os da escola pública preparados para ser mão-de-obra, os da classe média destinados aos vários tipos de gerência e os filhos dos ricos assumindo seu lugar na direção das megaempresas e do país?
Não necessariamente. Sempre existirão indivíduos excepcionais que, mesmo sem muita educação formal, conseguem grandes resultados pessoais. Está aí José Luis Cutrale, o Rei da Laranja, dono de fortuna estimada em 3 bilhões de dólares, que não foi para a universidade, nem completou com grande sucesso o ensino médio. Outro exemplo é Francisco Dias Branco, há pouco falecido, que acumulou fortuna parecida com a de Cutrale atuando no setor de alimentos.
E o superbilionário Joseph Safra, dono do Banco Safra, também falecido há pouco? Era dono de 17,2 bilhões de dólares e jamais se soube de algum diploma universitário em sua vida.
Bill Gates e Mark Zuckerberg tampouco ostentam diploma. Caíram fora de Harvard para fundar, respectivamente, a Microsoft e o Facebook.
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Fica claro que o diploma universitário não é condição essencial para o sucesso. Vale a pena aprofundar um pouco mais esse raciocínio com auxílio de Rousseau. No Discurso Sobre as Origens e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens, ele delineia o paradoxo segundo o qual “a civilização moderna, ao mesmo tempo que aliena as pessoas de si mesmas, também desenvolve e aprofunda esses indivíduos alienados e lhes dá a capacitação necessária formar um contrato social e criar uma sociedade radicalmente nova”.
Agora mesmo, no meio da pandemia e da crise econômica, assistimos ao nascimento dessas capacidades. Garotos e garotas da periferia têm aulas pelo 4G do celular – e aprendem! Tornam-se fluentes em inglês de tanto ver filme americano sem ler a legenda. São capazes de percorrer todo o site do Museu da Escravidão de Liverpool só para fazer uma live.
É o paradoxo de Rousseau. Quanto mais degradado o ensino, quanto mais injustas as regras do trabalho, mais o oprimido descobre energia positiva para transformar o mundo.
A força possivelmente vem de outro paradoxo, descrito por Thomas More: “Porque ninguém tem nada, todos ficam mais ricos”.
E a dinâmica que vai tornar os sem diploma vencedores talvez esteja em Marx: “Para que uma classe seja classe libertadora par excellence é necessário que outra classe se revele abertamente como a classe opressora”.
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LER – Lesão por Esforçoi Repetitivo
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O trabalho não traz felicidade.
Traz doença auditiva.
Lesão por esforço repetitivo.
Dermatite e câncer de pele.
Problemas de visão.
Estresse ocupacional.
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Charles Chaplin, Tempos Modernos, 1936
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Chego sempre à hora certa,
contam comigo, não falho,
pois adoro o meu emprego:
o que detesto é o trabalho.
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Hoje ele foi informado de que o Senado derrubou o impeachment do Trump.
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Por enquanto, os invasores do Congresso norte-americano estão se dando bem.
Exemplo: o cara que entrou no Capitólio com um agasalho de caveira onde estava escrito Work Brings Freedom (O trabalho leva à liberdade).
É a tradução de Arbeit Macht Frei, inscrição encontrada na entrada do campo de Auschwitz.
Puro humor negro.
O dono do moleton Camp Auschwitz é um soldador chamado Robert Keith Packer, Mora em Newport News, cidade da Virginia de 180 mil habitantes.
Foi identificado e será processado por invasão da propriedade governamental, que não chega a ser um crime.
E não por estimular o ódio racial.