A eleição que vem ai e a Máquina do Ódio
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Os disparos em massa no WhatsApp e a campanha de desinformação ajudaram a ganhar uma eleição. Ajudarão na próxima?
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A técnica de ganhar eleição no interior do Paraná era atacar. Se ele candidato deles tiver rabo preso, revele. Se não tiver, invente. Tem que olhar bem o jeitão do homem, ensinava um “coronel” do sudoeste nos anos 1950. Dependendo do que observar, mande os companheiros espalharem que ele é a) viado; b) corno; c) ladrão.
Mas é preciso tomar cuidado para não espalhar duas coisas ao mesmo tempo. “Aí o povo não acredita e a gente perde a eleição.”
Na história eleitoral do Brasil o voto negativo elegeu mais gente do que as boas propostas. Mas também houve Lula, uma prova de que o “coronel” estava certo. Chamado de a) analfabeto; e b) comunista, ele se elegeu duas vezes. O povo não acreditou.
Na verdade, segundo Patrícia Campos Mello, não é o tipo de acusação, mas a intensidade, a repetição e o direcionamento dela pelo microtargeting que convencem o público. É preciso falar a coisa certa para o eleitor certo. Grupos religiosos não votam em candidato que acreditam ser a favor do aborto. Proprietários odeiam novos impostos sobre herança. É só escolher. E inventar.
As estratégias para descobrir como, quando e com quem ganhar eleições no mundo digital são dissecadas por Patrícia Campos Mello em seu novo livro “A Máquina do Ódio”, que tem o subtítulo “Notas de uma Repórter sobre Fake News e Violência Digital”.
A autora foi uma das vítimas da máquina do ódio que elegeu Bolsonaro e pode reelegê-lo. Qual o segredo? A máquina é digital enquanto a maioria de nós continua analógica. É difícil acreditar que mídias sociais possam disseminar por toda parte, instantaneamente, milhões de desinformações. São memes, textos, áudios e vídeos veiculando um ponto de vista, uma declaração fora de contexto ou uma fake news descarada.
Jason Stanley, autor de “Como Funciona o Fascismo”, diz que graças a Patrícia Campos Mello é possível entender como a internet contribuiu para propagar movimentos contrários à democracia.
O livro de 294 páginas, da Companhia das Letras, mostra como foi possível, em 2018, localizar públicos, criar inimigos, calibrar as mensagens, espalhar mentiras descaradas, medir o convencimento do eleitor. As técnicas foram vitoriosas nos Estados Unidos, Brasil, Reino Único (Brexit), Alemanha e Polônia. Podem vencer novamente nestas eleições municipais e em 2022.
A diferença é que agora os defensores da democracia conhecem como funciona o disparo em massa de fake news. Sabem que empresas como a Cambridge Analytica segmentam o eleitorado com auxílio do Facebook. E principalmente de onde veio o dinheiro e como empresários bancaram esse caixa 2 terceirizado.
No final, uma conclusão inescapável: para derrotar as mentiras, apoiar a mídia profissional é um dever cívico.
Adriana
5 de agosto de 2020
Serviço de utilidade pública!
Vamos salvar jornais e formar leitores.