A arte do encarcerado
Os Estados Unidos guardam em suas prisões 2,3 milhões de pessoas. O confinamento em massa gerou manifestações artísticas.
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O blog da New York Review of Books conta o que aconteceu com o projeto Marking Time: Art in the Age of Mass Incarceration (Contando o tempo: Arte na Era do Encarceramento em Massa), do Museu de Arte Moderna de NYC: a pandemia do COVID-19 colocou em prisão domiciliar a população e os curadores da mostra, transferida para o segundo semestre.
A autora Nicole Fleetwood é professora de Estudos Americanos e História da Arte na Universidade Rutgers. Seu livro nasceu como pesquisa acadêmica sobre o encarceramento em massa nos Estados Unidos. Um trabalho de nove anos que resultou em depoimentos, fotos, desenhos e aquarelas, além de relatos como a vergonha e a dificuldade de falar sobre as experiências prisionais em público.
Foi um jeito, ela explica, de lidar com a tristeza de ver tantos parentes,vizinhos e amigos de infância confinados em prisões por anos, muitos pela vida inteira.
A cidade em que Nicole cresceu dependia de tecelagens que ofereciam empregos aos trabalhadores da baixa classe média negra. Crises fecharam as fábricas e inviabilizaram os sindicatos. Nas décadas de 1980 e início de 1990, ela testemunhou jovens negros, e também mulheres e homens idosos, sendo embarcados para a prisão com tanta frequência que tornou-se corriqueiro o súbito desaparecimento e a longa ausência deles.
O livro e a exposição postergada devido ao Covid-19 denunciam o que a autora chama de Estado-Carcereiro, que nasceu da necessidade de esmagar os movimentos radicais dos anos 1960 e 1970, da Guerra às Drogas, das consequências adversas da Guerra à Pobreza, Guerra ao Terror, desindustrialização, políticas neoliberais, educação pública segregadora e punitiva, políticas de austeridade e permanente discriminação contra não-brancos, gays e outros grupos.
Uma iconografia nasceu da violência contra esses grupos minoritários. Posters de “Procura-se”, imagens de negros algemados, revistados, subjugados, fotos de identificação policial (mug shots) frequentavam os tabloides locais e nacionais e fortaleciam a imagem do “negro perigoso”, ladrão, assassino ou traficante de crack. Esse material foi reprocessado nas celas sob a ótica do encarcerado.
Os negros são perigosos – as “mug shots” dos jornais confirmavam.*
Texto completo (em inglês) aqui
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