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O eterno Beppi

 

Olha ai o Beppi em 1968, no Santa Mônica, com o Fernandão ao piano. Hora da saudade: Beppi e sua banda em 1968. Jazz no Santa Mônica, com Fernando Montanari ao piano.

 

Ele tem 84 anos e cara de 70. Melhor ainda, memória  de 30. Dá uma olhada na foto de uma orquestra dos anos 70 e vai identificando os músicos – nome e sobrenome – com os instrumentos, as manias, os problemas.

Giuseppe Bertollo, o maestro Beppi, fez a América, como se dizia em Padua. Chegou com dez mil reis no bolso e hoje mora ao lado do Hotel Bourbon,em um apartamento de andar inteiro, que era de um senador da República. Vai frequentamente à Itália e aos Estados Unidos. Só não viaja mais porque agenda é pesada.

Já não toca tanto em clubes. Não é que não goste – as coisas mudaram.

Os clubes foram fechando ou houve fusão com outros clubes. A programação social encolheu. Só o Curitibano, Graciosa e Santa Mônica promovem bailes de debutantes. O famoso carnaval do Santa Mônica agora é só um baile e uma matiné.

Em compensação, as festas de casamento ficaram enormes, hollywoodianas. Ocupam centenas de músicos, fotógrafos, maquiadores, cabelereiros, massagistas, câmeras, locutores, decoradores – um negócio que movimenta dezenas de milhões por ano e que incorporou mais um termo ao dia-a-dia da sociedade: party designer. No começo do ano, um empresário gastou 700 mil reais para ouvir de novo o som da big band dos anos 60.

E não foi o único.

Entre tantos músicos veteranos, com dificuldade para achar trabalho, o maestro Beppi é um exemplo. O sucesso, na opinião dele, depende de três fatores.

1 . Lealdade. Você não pode ser desleal com um companheiro, com um empregador, com um cliente. Quem faz isso não tem futuro.

2. Sensibilidade. Entenda o ambiente. Os italianos dizem “nova terra, novos costumes”.  Siga os costumes da terra.

3. A terceira virtude que continua cultivando, talvez a mais importante, é a obediência. Obedeça ao público. Toque o que ele quer ouvir, não o que você quer tocar.

Exemplo de obediência foi sua iniciação profissional no Brasil, como maestro da banda que animava as noites da Caverna Curitibana, o mais famoso dancing do sul do país. Eram seis horas de música ininterrupta porque o faturamento da casa dependia das moças dançando – e as moças só encontrariam alguém para dançar se a música fosse empolgante. Sonzeira. Boleros, sambas, chorinhos, foxes do gosto dos fregueses.  Se fosse Baile do Chope, tome polca.

Lealdade, sensibilidade, obediência ao gosto do público. Nenhum livro de marketing explica melhor o êxito de um produto.

Qualquer dia desses você vai dar de cara com Beppi e seus Solistas numa festa de empresa, casamento, bodas, baile de debutantes.

Aqui no Brasil, esse italiano do Veneto tem 67 anos de estrada. Quase só alegrias, porque outra virtude é o bom humor, a cabeça aberta, fazer o que gosta, a eterna disposição para trabalhar.

 

 

Posted on 26th setembro 2012 in Sem categoria  •  No comments yet

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