Polícia digital
Agora é você e o computador
A polícia paranaense acaba de criar o Boletim de Ocorrência eletrônico, que vale para carro roubado, cartão de crédito furtado, identidade desaparecida, coisas assim.
No futuro, com o incremento da banda larga, poderão ser incluídos crimes mais sangrentos, como homicídio e latrocinio.
Nesse dia deve-se homenagear o doutor Helio Beltrão. Ex-ministro do Planejamento, hoje mais conhecido como pai da atriz Andrea Beltrão, ele é autor de frase definitiva sobre a doença burocrática que assola o país.
-No Brasil, o atestado de óbito vale mais do que a presença do cadáver.
Na última vez que roubaram meu carro – felizmente foram só duas vezes – tive o pequeno conforto de falar com um agente da lei.
Um microfone no meio do vidro de uma polegada separava as vítimas do roubo do encarregado de escrever o Boletim de Ocorrência na Delegacia de Furtos de Veículos.
-Fale bem alto! – berrou o agente. –Esse microfone está uma porcaria!
Falei bem alto. Revelei a marca do carro, o ano de fabricação, o local do crime e tentei descrever os dois bandidos, que estavam de gorro escuro.
-Um era meio loiro.
-E o outro era pardo – advinhou o agente.
Confirmei. Pardo. Loiro e pardo, como nas duplas de policiais das séries da Sony. Ele digitou
e deu os trâmites por findos.
-Assine aqui! – passou o Boletim pela frestinha de dois centímetros na parte inferior do vidro.
Assinei, ganhei um xerox para o seguro. Fui embora de taxi, lamentando a má idéia de parar na padaria da Padre Anchieta, mas feliz por ter falado com alguém.
Foi realmente consoladora informação de que eu era a oitava vítima daquela noite. Não é bom ficar sozinho numa hora dessas.
Nos próximos assaltos, só você e o computador. Não haverá alguém para informar que você é o oitavo, que o microfone está uma merda, que lá dentro há 150 presos onde cabem 50.
A solidão é o preço que a gente paga pelo avanço da comunicação digital.
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