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MUSSA

 

mussa jose Os tempos heróicos da velha Ùltima Hora.

 

Mussa José Assis foi um dos grandes jornalistas que conheci – e falo do jornalista no sentido amplo, aquele que levanta cedo e trabalha duro; que colhe, interpreta, edita e distribui informação de qualidade. Poucos colegas escreveram com a mesma clareza. Raros entenderam como a precisão gramatical torna o fato mais emocionante.

Uma vida intensa, rica de experiência, grande demais para este blog. Há na cidade ao menos uma centena de profissionais cujas capacidades foram modeladas pelo seu talento. Vão lembrar a importância do trabalho dele na imprensa do Paraná. Aqui, quero focalizar a fase da Última Hora, que mudou a maneira como a geração de 60 viveu o jornalismo.

Antes da UH o jornal era romântico; depois tornou-se business.

Foi isso que Mussa aprendeu (e ensinou) na Ultima Hora: não basta fazer um diário repleto de notícias – é preciso que bem cedo o jornal esteja no ponto de venda. E se vender tudo, há que entregar novos exemplares ao banqueiro, para que o leitor jamais fique sem o que ler.

Em 1960, antes de Philip Kotler chegar ao Brasil, Samuel Wainer ensinou que o marketing tem quatro pernas – produto, preço, distribuição e promoção. Os jornais de Curitiba empacavam na distribuição. A Ultima Hora do Paraná, que Ari de Carvalho dirigia e Mussa secretariava, vendia diariamente 30 mil exemplares. Não tinha assinantes. (Hoje, 50 anos depois, o líder registra 40 mil exemplares.)

Mussa era um jornalista completo. Porque gostava de aprender. E porque começou do começo, como repórter de setor. Na política conseguia notícias que os outros não tinham. Não era milagre, era trabalho. Ele mesmo revelou mais tarde sua grande fonte informações exclusivas durante o primeiro governo Ney Braga: as latas de lixo. Metódico revirava todas, principalmente as do gabinete do governador, onde achava bilhetinhos amassados ou mal rasgados, ordens aos secretários, broncas, minutas de decretos.

Ninguém dominou tão bem a arte de organizar sua rede de informantes. Nem conseguiu, como ele, acesso frequente às boas fontes. Mussa tinha jeito para lidar com os que estão no poder. Eles não gostam de quem tem medo deles e desprezam quem os bajula. Nesse fio da navalha anda o bom repórter.

Promovido a Secretário da Última Hora em São Paulo, Mussa foi instalado num apartamento no Largo do Paissandu. Morava a quinhentos metros da redação, no Vale do Anhangabau, e não tinha horário para entrar nem para sair. Durante o dia tratava da produção da notícia – um leque variado que incluía clubes de bairro, times da várzea, sindicatos, quarteis. Curitiba pulsava na UH.

À noite, olho no relógio, cuidava da oficina. O caminhão para Curitiba tinha que partir às 11 horas. Sorte que a BR-116 da época era um tapete. Quatro da manhã o jornal estava na Rodoviária de Curitiba, onde uma parte era despachada para Paranaguá, Ponta Grossa e outras cidades. Acho que até hoje não apareceu jornal tão bem sucedido como aquela Ultima Hora.

Vejo com saudade o Mussa chegando à oficina, entre linotipos e uma impressora que não podia esperar. Um espaço barulhento, onde tudo era rápido e a precisão uma hipótese. Daí a adrenalina de correr até a redação, definir o desenho da página, o título, a legenda da notícia – e voltar a tempo de corrigir antes da impressão o erro inevitável.

Por fim a alegria de conferir a prova de página. Perfeita, a manchete forte, uma foto surpreendente. Era imenso aquele jornal de 12 páginas e nenhum anúncio. Está hoje nas bibliotecas e nos museus do jornalismo como um testemunho da história da imprensa e da alma de todos nós.

 

 

Posted on 22nd fevereiro 2013 in Sem categoria  •  No comments yet

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