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LULA

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kklkl O livro é assinado por um craque em biografias.

 

 

 

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Li num estirão 200 páginas, mais da metade, de Lula, a biografia que Fernando Morais acaba de lançar pela Companhia das Letras. Ele diz que escreveu um thriller e escreveu mesmo. O texto é elétrico, em movimento incessante das massas que vão e vem – e ora consagram o líder metalúrgico que tirou 30 milhões de brasileiros da miséria, ora o xingam de ladrão, pedem algemas, aplaudem a prisão, convencidas que ele e o PT são a fonte de toda corrupção nacional.

Morais começou a trabalhar no relato em 2011 e testemunhou a dor de d. Marisa com a perseguição do juiz Sergio Moro, o grampo ilícito no escritório dos advogados da defesa, a condução coercitiva para gerar imagens na TV – parte do lawfare, a guerra feita a partir dos tribunais e da mídia. Viu o povo gritando “Resista!” do lado de fora do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e ouviu, o senador Lindenberg aconselhar Lula a seguir para uma embaixada e só voltar daqui a 20 anos, como Peron na Argentina, que se elegeu, elegeu o sucessor e por fim elegeu a esposa Isabelita.

Resistir era inútil e resultaria em mortes – havia o equivalente a uma brigada motorizada, caveirões e tropas de choque em torno do Sindicato. O asilo político não era coisa para o Lula, mas a prisão era. Desde jovem enfrentou o confinamento em prisões da ditadura militar e aquela da Polícia Federal de Curitiba pereceu menos assustadora, porque otimista achava que não ficaria mais de dez dias em Santa Cândida.

Mas durou 580 dias e só acabou graças ao Vermelho, o hacker de Araraquara que quebrou o sigilo das comunicações entre os procuradores e o juiz e desnudou a conspiração. Personagem que justifica um filme só para ele. Se não fosse  esse  Walter Delgatti, os ministros do STF não teriam evidência material da suspeição do juiz e Lula poderia está até agora ouvindo o “Bom dia, Presidente!” e o “Boa noite, Presidente!” do acampamento de Santa Cândida.

Fala de novo do bairro porque esta é uma das raras falhas da narrativa. Morais descreve como habitado pela classe média alta, gente de colarinho que não gosta do PT, nem de trabalhador em geral. É uma injustiça. O bairro é de gente pobre, tem até favela. Resume a desigualdade cada vez maior do país. Barracos se amontoam atrás do cemitério. Mais adiante, a bela casa do grande empresário do transporte coletivo. E, mais adiante ainda, a mansão de famoso advogado tributarista. Após o muro de três metros, casas de madeira assinalam com seus lambrequins pedindo pintura o estilo arquitetônico dos colonos que vieram para cá no tempo do presidente Lamenha Lins.

Desembarcaram para substituir os escravos. Com a Lei do Ventre Livre em 1871 e a abolição em 1888, faltou mão-de-obra, houve problemas de produção e ainda bem que os colonos da Silésia chegaram para criar galinha e plantar verdura nas chacrinhas que ganharam do governo. Não eram grandes, uns 100 mil metros quadrados cada uma, só quatro alqueires. Mas estavam perto da estrada da Graciosa e por ali começou a transitar em carroças, toda manhã, a produção do cinturão verde de Curitiba.

Pena que, com o tempo, os polaquinhos casaram e foi preciso dividir a chácara, em duas, depois em quatro, depois em vinte partes e onde o lugar para plantar, e a grama para a vaquinha?

Agora, em Santa Candida e na vizinha Barreirinha, na Cachoeira e no Abranches há muito desemprego, gente sonhando com frango e com o tempo em que havia leite abundante para fazer queijo. Hoje tem um pessoal furtando, ali nunca foi lugar de gatuno. Os ricos, os que chegaram de mercedes e bmw para atirar foguetes no acampamento, vinham do Cabral, do Juvevê, do Ahu, Fernando Morais. Você se enganou com a barulheira. Mas nos deu um livro emocionante. Esse Lula será traduzido e aplaudido em muitas línguas, porque conta uma história universal de resistência e luta e dor e esperança.

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Posted on 26th novembro 2021 in Sem categoria  •  No comments yet

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