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Um mundo sem juizo

Silver linings playbook Para ser feliz não precisa ser normal – basta encontrar alguém que seja pirado na mesma frequência da gente.

 

Em matéria de Oscar, estou torcendo pela comédia “O lado bom da vida”.

É uma história alegre, bem contada, e com uma filosofia devastadora – defende a idéia de que, para ser feliz, um maluco não precisa ser trazido de volta à realidade, apenas encontrar alguém tão maluco quanto ele.

Não estou sozinho nessa torcida. A editora de cinema do jornal The Guardian, Catherine Shoard, vestiu o uniforme do anti-heroi do filme Pat (Bradley Cooper), foi para a pista de cooper e explicou sua preferência pela comédia romântica de David O. Russell.

Há muito tempo um filme não conseguia o Top Five – ser indicado ao mesmo tempo para os Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Diretor, Melhor Roteiro.

O personagem central, Pat, é um professor de ginásio bipolar, que tenta trazer de volta sua ex-mulher, Nikky. Para isso, quer estar em forma: corre todo dia no parque enrolado num saco de lixo – suar mais, acredita, acelera a perda de peso. E disputa um campeonato de dança onde seu par, Tiffany (Jennifer Lawrence) é uma nova amiga igualmente perturbada.

O filme é baseado em livro de Matthew Quick, já nas livrarias. Conta a vida de pirados, maníacos e deprimidos. E vai mais além: trata de superstições e delírios que estão encravados na sociedade. Pat Senior (Robert de Niro), por exemplo, tem moderado TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Não assiste a jogo dos Eagles sem estar com um lenço verde na mão esquerda e ao lado de uma pessoa que não dê azar (juju, na gíria dele).

Vamos falar sério: crenças assim orientam decisões de dezenas de milhões no esporte, na política, até no amor.

Cliff, o psiquiatra de Pat ensina: Você precisa de uma estratégia para conseguir vitórias e suportar eventuais fracassos.

O diretor David O. Russel usa uma linguagem cinematográfica elegante e econômica. É um craque nas elipses. Um exemplo, logo no início do filme: a mãe de Pat, Dolores, vai buscá-lo no hospital. Um amigo, Danny (Chris Tucker), pede carona. Dolores concorda depois de informada por Pat que o amigo realmente está de saida. Mas, adiante, toca o telefone dela. É alguém do hospital.

-O quê? Você tem certeza? Então, vou leva-lo de volta agora mesmo!

Para o filho:

-Você mentiu, Pat. Danny não está liberado para ir embora.

Os dois discutem. Danny intervém.

-Eu sou culpado. Pat não sabia. Ele é meu amigo, estava querendo me ajudar. Me leve de volta para o hospital. Mas leve Pat para casa. Ele está legal, a senhora vai ver.

Corta. A cena seguinte começa com um take do assento trazeiro. Vazio. A seguir, a câmera dá uma pan mostrando Pat, no banco do carona. Linguagem eficiente do diretor e do montador Jay Cassidy, veterano de muitos sucessos, entre eles “Uma Verdade Inconveniente”, aquele documentário apresentado pelo ex-vice presidente Al Gore que mudou a cabeça de muita gente sobre a questão ambiental.

Um conselho aos eventuais leitores deste blog: vão lá e assistam. Num mundo que pode ser insensível e cruel, administrar a dor e o desapontamento com ajuda de crenças irracionais ou ritualísticas não prejudica ninguém e pode proporcionar conforto e paz.

Posted on 15th fevereiro 2013 in Sem categoria  •  No comments yet

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